quinta-feira, 30 de setembro de 2010

completude e complexidade

e não regressar mais dos teus abraços, e não estar mais inteira totalmente (pedacinhos deixados em ti). mas sim, precisar viver a metade que sobra sozinha e vazia, porque, pelo menos por enquanto, (e é preciso entender bem) é o fragmento estilhaçado que dá sentido à ideia de ser completa.



- Que olhar é meu nos olhos teus?


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

and live

ela gemia tão bem, mas era tão vazia.
os suspiros azuis, a boca entre aberta: convite pro sexo. mas ia embora antes - o tesão, a líbido, o carinho até, tudo ia embora no momento que começava.
o prazer era seco e oco e mesmo o amor entre os corpos era só abstrato, não tinha amor concreto, não tinha mãos dadas em meio ao gozo ou dedos sutilmente sentindo as costas durante um arranhão. a eterna espera de sempre se entregar a alguém que te merece, e no fim sempre entregue ao vazio, ao duro, àquilo que te maltrata. a uma foda sem entrega.
gostava dos gemidos, tão fortes, ofegantes, presenciais, aumentavam os estímulos.
forçados. uma vontade de quem precisa trepar, não de quem precisa invadir o outro. o outro precisa sentir a invasão. mas ela não se invadia e não deixava que a invadissem. talvez por isso os gemidos, a agonia manifestando-se em sons tão altos. e se desenvolvia bem com o corpo, tinha uma cintura legal, um quadril de fêmea reprodutora, peitos bonitos, grandes, sedutores também. mas não sabia usar tudo isso direito, tinha aprendido o molejo de andar mas era praticamente frígida no sexo. tinha medo, receio, pudor, qualquer dessas coisas que não se pode ter numa transa, muito menos com alguém que se ama. e quando fluía um pouco mais a ajuda era do álcool e quando a sobriedade vinha a coisa se cortava. ela foi até o fim bastantes das vezes, mas provavelmente em nenhuma se rendeu de todo, em nenhuma deixou a coisa ir até o fim sem hesitar. e hesitando se fazia fria, distante, nojenta até.
a partir disso o momento se mostrava todo azul arroxeado, e já é muito claro que os sentimentos sempre precisam ter tons de azul mais claro, quase água, uma cor assim que ela não tinha nunca. (e que talvez nunca pudesse ter.)

*

eu cheguei a achar que ele nunca ia poder se recuperar, que nunca ia ver o azul claro de novo, só esse cinza e feio que ela tinha deixado. mas ele viu, ele viu de um jeito bonito. um jeito bonito numa noite bonita, que podia se tornar linda com o tempo. sabia que ia chegar o dia que, enquanto gozava, ia sentir claramente o mar sob seus pés, talvez sob suas costas, sabia que só precisava esperar. aquela sensação azeda e receosa ia ir embora, já estava indo. o que lamentava era não poder suportar o suor tanto tempo, o banho desesperado lhe tirava também o cheiro marcante daquele corpo diferente. mas isso deveria ser a menor das preocupações: vinha pela frente uma época de aromas novos.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

sabe o que é que é?

não aguento mais.