domingo, 29 de agosto de 2010

perder-se é o começo.

olha voz que me resta / olha a veia que salta / olha a gota que falta / pro desfecho da festa / por favor, deixa em paz meu coração / que ele é um pote até aqui de mágoa / e qualquer desanteção, faça não /pode ser a gota d'água

confusão olhos-olhos, aqueles teus olhos que antes calavam tanto, se recolhiam tanto, agora tão abertos. ah, você, por que sempre dessa forma tão estranha? por que antes tão duro e agora tão novo?
não sei, o que eu sinto é sempre tão real mas fica sussurrando pra mim mesma e não me levo fé, não me levo fé e esse é o problema todo. ouvir mais a mim mesma, impossível - e tão necessário. mas sabe o que é, minha babaquice se justifica, a tua também. pobre, pobrezinha, tão bestinha. eu. ou tu, também, cada qual com sua culpa.
ah, te vejo na minha vida ainda, desde antes, sabia que podia te ver na minha vida. não no sentido de me marcar, mas no sentido de estar, secundariamente ou não, nela. te vejo, sim. mas talvez seja apenas de uma forma banal, apenas essa forma vaga e estranha.
será que eu não troco os pés pelas mãos?
será que o risco é válido?
eu, que bem sei que ando transbordando meu pote de água, que qualquer gotinha me fará jorrar.
ou talvez jorrar seja bom, purifique, deixe o pote vazio de novo.

não, não vou esperando o pior. não, não vou esperando o bonito e eterno. não vou esperando nada. talvez pela primeira vez em todo a vida, não espero, não planejo, não me deixo ilusão.
e é essa vontade da surpresa que me encanta, que me faz ir além, o saber que cada dia é novo, que cada descontrole pode vir pro bem, que todo o desfeito pode também ser uma construção nova. o novo, o estranho, o sublime.
se perder é só o começo.

Um comentário:

  1. Sublime é o término do teu texto.

    Constrói-se em imagens até se condensar na última frase.

    A chave de ouro dos parnasianos.
    Mas tão diferente...

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