segunda-feira, 5 de abril de 2010

as tristezas que roubo por aí

tenho umas manias bobas de quando me apaixono pelas pessoas. não no sentido profundo e intenso, mas aquele apaixonar à primeira vista, algo às vezes até platônico por alguém. as manias se consistem, principalmente, em me encantar por três fatores na pessoa:

1. O Cheiro
2. A Voz
3. A Tristeza

Raramente as pessoas por quem eu me encanto/apaixono/interesso preenche os três aspectos, em geral são só dois. Dentre eles, inevitavelmente, a Tristeza se encontra, e daí o Cheiro ou a Voz completa o encantamento. Pode parecer meio louco, ou estranho, mas ter uma melancolia doce é um fator relevante pra mim. E não, não quero me afundar em depressão, não super vanglorio ficar chorando e morrendo a vida toda, e tão pouco quero que a pessoa que esteja comigo fique triste. Mas, reforço: quando a conheço, tem que ser notável (pra mim) a existência dessa melancolia. Porque felicidade de mais me cansa (e tristeza de mais também, que fique claro).

Eu vejo essa tristeza como um atestado de várias coisas. poderia dizer que a pessoa parece muito Viva quando tem algo de triste. porque significa que ela sofreu, que algo lhe tocou fundo e machucou feio, e que agora se segue meio cambaleante a espera do andar normal - que vem com o tempo, com a vida, enfim: com as coisas novas. e é aí que eu entro. quero ser a coisa nova, não algo que cure, não algo que só console, nada parecido com ser psicólogo ou mãe (embora às vezes eu caia nesse último, pra fazer jus à psicanálise). quero só dizer que entendo, que também tenho algo de triste, que to cansada de fingir que tudo tá bem, que me dói várias coisas por aí e tem pedaços meus que eu sei que nunca vou ter de volta. mas tenho também recolhido pedaços de outras pessoas, tenho aprendido a lidar com os buracos em mim e tenho dormido mais tranquila a noite.

então procuro as tristezas dos outros. o olhar parado no meio de uma conversa. o silêncio de quem se lembra de algo ruim. o segredo dos traumas que a pessoa passou e ninguém sabe, ninguém vê.
me apaixono pelas tristezas. sonho com elas. tento invadi-las. quase nunca consigo - a tristeza da gente é assim, teima em não se dividir com os demais. mas continuo. certa de que há muitos como eu que também estão dispostos a entender o lado triste do mundo.

quero explicar do cheiro e da voz também, mas acho que vou deixar pra um outro momento, um momento mais conveniente, menos triste.

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