domingo, 4 de abril de 2010

cheiro de hortelã

o mais importante é dizer de início que não é que tudo isso tenha sido um começo, nem que ela ache isso, e não se tratava de começos, mas a coisa em si mesma já se era em todo. não, também não era um final, ela vê claramente que pode (e que realmente quer) seguir com isso um tempo ainda.
também é importante ressaltar que o sexo não foi pleno, longo ou memorável. mas foi, com certeza, forte. forte no sentido bonito e até meio grosseiro da palavra. não podia dizer que tinha sido Violento, mas seu pescoço doía, e, por bater a cabeça na quina da cama, de recordação, ganhou um galo na cabeça. o latejar do machucado fixaria bem o acontecimento durante os próximos dias.
é importante, parte que passa tangendo a primeira observação, que no outro dia tudo era um tanto frio e real. de mais. não tinha certeza se de manhã deveria ter abraçado carinhosamente como fez, se mostrando também uma pessoa que tem coração (porque se orgulhava disso), mas em todo caso quando sua mão foi segurada com força (porém ternura, dessas seguradas de Estouaquicomvocefiqueseguro) ela sentiu que não estava tão mal assim.
mas, e é importante dizer, tudo soava confuso, desconfortável e bom.
e era bom se sentir desconcertada, acordar no outro dia sem saber se beija, se espera um pouco, se um dia ainda vai tocar os lábios dessa garota de novo. se mais algum dia vai sequer ve-la de perto. e era bom, sim, essa dúvida. era bom ter dúvidas novamente, se sentir pateticamente viva.
tinha sido um dia diferente, uma noite diferente. e por isso importante. era gostoso o diferente. andava numa fase de procurar coisas novas e boas, e de abandonar as coisas velhas que ficam tornando tudo sempre tão pesado.
tinha invadido um dia da vida dela e tinha gostado dessa vida. não com inveja, nem como quem gostaria de rouber algo dela, mas como quem diz Que vida bonita a sua, onde você comprou? e era simples e rico, esse pedaço dessa vida que tinha conhecido. achava que tinha se encaixado bem, mas era evidente a todo momento que aquela não era a Sua vida, que ela não tinha espaço ali para ficar, que era melhor nem criar raízes. ela teve que lidar com esse fato a noite toda. e é importante entender que ela não sabe se o lidar dela foi bom. mas continou.
afinal o que era tudo isso? por que tinha ganhado um dia de free pass na vida dela e no outro dia nem um olhar doce? e a demora tanta pra que tudo começasse, deveria encarar como algo bom ou ruim? ela era tão objeto ou tão possibilidade?
ela sabia que guardaria pra sempre o cheiro de hortelã e as impressões estranhas de tudo que aconteceu, mas por que se importava tanto se isso ou aquilo tinham sido importantes se no final a noite fora tão agradável?
e nem se quer lhe doía ir embora de manhã.


sujeito a alterações quando minha dor de cabeça parar.

Um comentário:

  1. Espero que a sua dor de cabeça não pare, pq novamente está muito bom.Gostei da pontuação à la Saramago.

    "Que vida bonita a sua, onde você comprou? " Genial.

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