quarta-feira, 14 de abril de 2010

ela era todo amor

nó no peito, aflição, tem dias que a gente se sente estranho.
estranha. distorcida, carrancuda (que palavra feia!), estagnada, medrosa.
ela ia, voltava, ia, um pouco sem sentido mesmo, outro pouco fazendo tanto sentido, meu deus, mas não queria crer, não era possível crer, não tinha motivos para crer, era afinal obrigada a crer: doía.
o agora (doía admitir também). o antes (isso já aceitava sem dor). e o depois (o medo vinha com o futuro, sabia).
doía, porque ela toda era feita de mel: derretia, escorria. escapava também. fugia também. era terrível, era medo e era amor. e era, sim, da sua forma mais estranha e fútil. os três. talvez não o último (como ia saber do que não veio ainda?). ela era só. o amor pra ela era se sentir só. ela vivia bem, comia bem, continuava tudo bem, mas o nó no peito - aquele do começo do texto - não ia embora. às vezes, ia. mas voltava. teimava. o nó no peito de quem sofre, de quem não resolveu nada. mas não dava pra resolver assim. não sabia como resolver assim, como voltar com a paz dentro dela. ela era continuação: não era quebra pacífica. ou era continuação ou era rompimento brusco: não sabia ir embora, tinha dificuldade em ir embora. ela estava sempre continuando. ou sempre saia correndo. não conseguia ir embora caminhando, calma, segura, feliz. não conseguia porque não fazia sentido. doía. e a dor incomodava. fingia que não, fazia cara de feliz, virava as caras e fechava os olhos pra não ver que estava insatisfeita: mas estava.
e não resolvia, e não morria também. a dor era suportável.
e suportava. e esperava ansiosa todo dia que aquilo tivesse ido embora. ela toda crente esperava o deslizar do travesseiro levar suas aflições.
esperava o dia que acordaria livre, leve. não mais só.

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