quinta-feira, 8 de julho de 2010

eu só eu

não tenho amores pra contar.
não tive, não tenho e por que não dizer? não terei.
e não tenho muito o que contar. minhas palavras pesam, porque é nelas que descarrego toda a dor do dia, todos os dias. por isso falo tanto. já sei agora que não preciso me explicar, não preciso me expressar. mas sou eu quem me explico, não enxergo ninguém do outro lado.
se é pelos cotovelos que falo é pra dar mais uma sensação de monólogo mesmo - eu comigo sozinha parada e minha. e se te canso é porque cansei de mim.
dialogo na busca de algo novo, algo insano, algo também são. se antes era a lucidez que me afogava, talvez seja hora de admitir que a loucura invadida está me abrindo fendas de tanto me apossar.
ainda sinto meu couro cabeludo sensível, o toque dos casacos macio. o supremo. redescobri os tecidos há duas semanas. é no cinestésico que tenho me baseado. não quero dividir essas sensações com mais ninguém. não exatamente um não querer: um não poder. o som sinto que posso passar, o visto sinto que posso mostrar - mas o toque é só meu. imagem que fala muito de mim agora: isolada, particular. eu só eu. é no meu avesso que tenho me descoberto mais minha. é no meu contraste que me acho brilho. não só luz, mas muito vento. me repito que nasci-sozinha-sou-sozinha-morrerei-sozinha. mas é mentira. bem sei eu o quanto me esforço, mas não sou só. sou conjunto, sou dupla, sou vinte mil luisas na mesma cabeçinha. e não sei ser uma só - estou sempre acompanhada de mim. às vezes todas, às vezes três, nunca só (eu não aguentaria se fosse diferente). tem momentos que queria ser zero. zero luisas dentro de mim. mas ainda não foi possível ao ser deixar de ser. então continuo sendo (não tenho escolha).
minha palavra é oca. minha fala às vezes é mero ranger do coração, simples gemido que descuidadamente saí como palavras. e torturo. (e me torturo)
eu bem sei o que me incomoda. e não é deixar de dizer em voz alta que me torna menos consciente. e não é que eu me incomode que eu consiga mudar. (já não sei se quero mudar)
não tem nada mais triste do que se sentir insuportável. e nada mais insuportável do que compartilhar desta opinião. não se aguentar a si próprio destrói. e é no destruir que busco um alento.
cinza digna, não?
já não calo. há muito digo o que penso e o que não penso também. porque o silêncio me dói. o silêncio dá lugar a ação e com ela eu já não posso lidar (só sou boa com as palavras).
não, não quero férias de mim, não é bem de mim. é do mundo, desse mundo. férias da minha vida, um ir longe e voltar depois. mandar umas luisas de viagem e outras luisas ficam por aqui. e vamos, porque ficar já não é uma opção.

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