sexta-feira, 15 de agosto de 2014

do convivio exagerado de 20 até a solidão de 1

agora eu entendi o que eles falavam, eu entendi o que é voltar. o que é a solidão de quem volta.
não, voltar não é como ir a primeira vez - não é só achar tudo chato, não é achar que nada mudou, que as pessoas ainda vão nos mesmos lugares. na verdade o que dói em voltar é justamente o contrário.
tudo é tão diferente, os lugares são outros... mas são iguais. vou tentar explicar.

na faculdade, não sei porque me preocupei tanto com os conhecidos que poderiam me encarar com cara de "ah! você por aqui! e o que tu fez nos últimos dois anos? ainda não te formou?", mas a cara de mestrandos dos meus colegas não seria nada comparada à estranheza do primeiro dia. parecia que eu tinha voltado cinco anos no tempo, que era meu primeiro semestre. primeiro dia de aula e eu não conhecia ninguém (só uma colega que fingiu não me conhecer). ninguém. ninguém, nem um comprimento com o olhar. eu vivi todos os dias durante quatro anos naquele lugar, eu sentei em cada sala das trinta e poucas que tem lá, eu caminhei e encarei aqueles murais mais de vinte vezes por semana, eu sentei no banco de pedra na frente do prédio e tomei café, salgados, chocolates, até refrigerantes às 9 horas da manhã e de repente: nada. nada, nem um sinal de que eu tivesse vivido aquilo. nem um sinal de que aquele mundo foi meu. como se não tivesse existido aqueles quatro anos, como se eu não tivesse existido nunca ali. e eu, que tinha tanto medo de rostos conhecidos encontrei rostos tão novos, tão serenos, tão sabendo-o-que-estão-fazendo, enquanto eu voltava ali, perdida, perguntando nos corredores que já foram meus "onde fica o pavimento dois?".
ao mesmo tempo, ironicamente, ou coisas da minha cabeça, provável, tudo era igual. não porque fosse igual, mas era uma mímese, era uma reprodução dos anos anteriores. a menina parada olhando o mural era exatamente igual a uma das minhas colegas, o rapaz com vários livros me lembrou aquelas colegas que costumavam andar com livros nas mãos. e o moço tomando um café no banco de pedra poderia ser alguém como eu... se eu não fosse agora essa pessoa que passa apressada sem querer olhar pros lados com medo de encontrar alguém conhecido, sem saber que a única coisa desconhecida que vai encontrar ali é ela mesma.

mas seguimos, com a cabeça dando voltas sem pensar nada, o medo por todo o corpo, um suspiro demorado e o anseio de não ter com quem conversar nos cinco minutos de intervalo.
sigo. sigo porque preciso, porque eu achei que tudo ia ficar me esperando, mas a verdade é que tudo seguiu... que tudo continuou indo, nada ficou me esperando.

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